Assinala-se esta quarta-feira [16.10.2024], o Dia Mundial da Alimentação. Iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), uma agência das Nações Unidas criada nessa mesma data para liderar os esforços internacionais para erradicar a fome no planeta.
Desde 1981, o Dia Mundial da Alimentação adopta um tema diferente para destacar as áreas necessárias para a acção e fornecer um foco comum, geralmente, em torno da agricultura, na medida em que os investimentos no sector – juntamente com o apoio à educação e à saúde – poderão conduzir à erradicação da fome e da má nutrição. De acordo com a FAO, o objectivo da organização é alcançar a segurança alimentar de todos e garantir que as pessoas tenham acesso regular a alimentos suficientes de alta qualidade para levar-se uma vida activa e saudável , bem como levar os governos a reflectirem a respeito da situação da alimentação no mundo.
A nível mundial, as organizações das Nações Unidas FAO, FIDA, UNICEF, PAM e OMS, realizam anualmente o levantamento e análise da situação em todas as zonas do globo no que respeita à segurança alimentar e nutrição. A edição 2023 do relatório das Nações Unidas sobre o estado da segurança alimentar no mundo revela que há mais 122 milhões de pessoas afectadas pela fome do que havia em 2019, antes da pandemia Covid.
Segundo o relatório, há hoje em todo o mundo cerca de 735 milhões de pessoas nessa situação quando, em 2019, esse número rondava os 613 milhões. As Nações Unidas atribuem este aumento a factores como a pandemia, e às situações de falta de alimentos derivadas das alterações climáticas e de conflitos, incluindo a guerra na Ucrânia. As Nações Unidas estimam ainda que aproximadamente 29,6% da população mundial, ou seja, cerca de 2 mil e 400 milhões de pessoas não tenham acesso a uma alimentação regular. Destas, cerca de 900 milhões enfrentam situações de insegurança alimentar grave, sendo que muitas são crianças.
O relatório revela também que há desigualdades significativas entre diversas regiões do mundo. De um modo geral, na Ásia e na América Latina registou-se uma redução das situações de carência, mas estas agravaram-se na Ásia Ocidental, nas Caraíbas e em praticamente todas as regiões de África. Este continente é, aliás, a região do mundo mais atingida pela fome, que afecta uma em cada cinco pessoas, ou seja, mais do dobro da média a nível global.
A manterem-se estas tendências, as agências das Nações Unidas envolvidas neste levantamento avisam que será impossível cumprir o objectivo Fome Zero – acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição em todas as suas formas – até 2030. Em 2022, para ajudar a mitigar os impactos do aumento dos preços dos alimentos e dos cereais, agravados pela guerra da Rússia na Ucrânia, o Banco Africano de Desenvolvimento lançou em maio o Mecanismo Africano de Produção de Emergência Alimentar para permitir a produção de 38 milhões de toneladas de alimentos durante os próximos dois anos.
O Mecanismo de 1,5 mil milhões de dólares entrou em funcionamento, com o Banco a aprovar programas iniciais em 26 países africanos no valor de 1,257 mil milhões de dólares. O plano de Produção Alimentar de Emergência, do Grupo Banco, irá fornecer a 20 milhões de agricultores em toda a África variedades de sementes de trigo, milho, arroz, soja e óleo de palma, bem como o acesso a fertilizantes, para a produção de alimentos adicionais no valor de 12 mil milhões de dólares.
No Sul de Angola, há cerca de 1.32 milhões de pessoas, que experimentam níveis elevados de insegurança alimentar, concluiu um estudo, que conta com a participação da União Europeia, por intermédio do Fortelacimento da Resilência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN). De acordo com o FRESAN, acima de 80% dos alimentos, em Angola, são fornecidos por pequenos agricultores, mas mais de 70% das pessoas extremamente pobres estão em zonas rurais, onde predomina a agricultura familiar ou de pequena dimensão. Assim, o potencial da agricultura como alavanca para reduzir a pobreza, para gerar emprego e promover o desenvolvimento entre os sectores mais pobres da população aponta para a necessidade de se investir em desenvolvimento rural integrado.